quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O Factor C: Criatividade e Criação Musical

Fui convidado a escrever um artigo pelo MAPA, que foi publicado em Fevereiro de 2014.

Por razões que me são desconhecidas, o artigo já não se encontra disponível, mas tive a sorte de o encontrar na cache do Google.

O texto que se segue responde a muitas questões que me costumam fazer. Espero que te seja útil!

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Quem nunca teve um bloqueio criativo que atire a primeira pedra!
Todos nós criamos, inclusive quem não faz música ou outras artes. É frustrante quando temos que criar algo e não sai nada. A Wikipédia revela que “O writer’s block pode estar intimamente relacionado à depressão e à ansiedade”, mas tanto a depressão como a ansiedade podem ser usadas a favor do processo criativo (ler mais à frente).
A melhor “cunha” para melhorar e aumentar a criatividade é a inspiração. Não está à venda nas lojas, não dá para encomendar online, nem se arranja no mercado negro. Mas será assim tão difícil de obter? Como a conseguimos?

Mudar de ambiente
Viaja, conhece novas pessoas, submete-te a novas experiências! Sai de casa, vai correr ou andar de bicicleta mesmo que esteja a chover! O exercício físico espevita o cérebro e não é por acaso que a frase “Mente sã em corpo são” faz sentido.
Ouve música nova, lê um bom livro, vê um filme ou um documentário inspirador (há TED Talks muito interessantes), vai dar um passeio, faz meditação e inspira! Faz algo que gostas bastante, mas que seja diferente do habitual.
A mudança de ambiente e de rotina são essenciais. Funcionam como intervalos que te distraem da pressão de criar algo e geram criatividade espontânea de uma forma muito natural.

Fluidez de trabalho (a.k.a. Workflow)
Quanto tempo demoras para começar a gravar uma ideia criativa? Músico prevenido vale por dois! Se tens um tema espectacular para uma letra, uma linha melódica fantástica para o baixo ou uma progressão de acordes muito fixe que surgiu de repente, grava-a imediatamente! Um smartphone é portátil e muito eficiente. Instala o Easy Voice Recorder para gravar ideias musicais, e o Evernote para escrever letras e apontamentos (este artigo começou por ser escrito no Evernote).
Se precisares de gravar em casa, cria um template no teu programa de música com as faixas configuradas e prontas para gravar ao primeiro take. Não te preocupes em gravar perfeito e dá uma hipótese a alguns “erros” de gravação, pois podem ser ideias interessantes. “Uma vez é um erro, duas vezes é um arranjo, três vezes é jazz!” :-)

A depressão* e a ansiedade podem ser produtivas
Geralmente, quando um músico se sente inspirado, ou está extremamente contente ou extremamente triste. São estes dois estágios que mais nos fazem criar, e estão associados aos assuntos do coração: “sinto a tua falta”, “não paro de pensar em ti”, “magoaste-me demais”, “fazes-me sorrir” e outras frases, apesar de gastas, continuam a ser usadas em muita música que se faz por aí. Este assunto é abordado em mais de 80% das letras, porque é o mais fácil de explorar no processo criativo. As emoções, positivas ou negativas, são responsáveis pela criação das músicas que mais nos tocam. A ansiedade pode ser um veículo efectivo para descarregar numa letra de intervenção ou num break de bateria intenso!
Não te deixes dominar pelas emoções. Usa-as para novas criações.
[* – Depressão como estado emocional, não como transtorno mental]

Deixa-te ir
Faz qualquer coisa. Não julgues nem analises o que começaste a fazer, nem procures a perfeição. Não bloqueies tudo o que aparece no início, mesmo que te soe a flatulência mental. Essa base poderá dar origem a algo bastante interessante e pode ser um veículo inspirador.
Experimenta, explora, faz uso do pensamento divergente. Insere outras ideias, muda os instrumentos, muda a estrutura, ou vira tudo ao contrário só para ver como fica! E não interrompas essa inspiração! Desliga o som do telemóvel e a internet, se for necessário.
No dia ou semana seguinte, analisa então o que fizeste e escolhe as melhores partes.

Simplificar gera criatividade
A era digital em que vivemos dá-nos muitas possibilidades, já para não falar do ‘ctrl+z’ em quase todas elas. Quanto mais possibilidades de escolha temos, mais tempo demoramos a decidir. É mais fácil escolher entre cinco opções do que entre 50. Se propusermos algumas limitações, activamos a criatividade. Podes usar só a guitarra para gravar todas as faixas, ou gravar um máximo de quatro faixas, ou fazer um solo numa só oitava, ou um refrão com apenas quatro notas (fiz este último numa música e o resultado surpreendeu)…
Propor limitações acelera a criatividade e torna o desafio mais divertido. Para além de simplificar todo o processo, ajuda-te a chegar mais depressa ao fim.

Persistência, mas com bom senso
Esforça-te por terminar uma música, mas não forces. Não és obrigado a terminar cada música num dia, numa semana, num mês ou até num ano! Às vezes vale a pena “deixar a massa a descansar”, mas se demorares demasiado tempo, o sentido da música poderá desvanecer-se!
No entanto, nem tudo o que começaste tem que ficar concluído. Por vezes, mais vale começar algo novo do que gastar demasiado tempo a corrigir algo que não está a soar bem.
Se gostas de desafios, espreita este!

Faz batota
Se, mesmo depois disto tudo, não sabes por onde começar, faz “batota”! Usa acordes de outras músicas e insere uma melodia diferente (espreita este exemplo); pega numa melodia conhecida, altera algumas notas e usa diferentes acordes; ou altera o tempo de um break de bateria e faz uma nova música! Usar material alheio não é plágio se o alterares ao ponto de ficar irreconhecível. Como é óbvio, não convém fazer igual… E se disseres que usaste o trabalho de outro autor como fonte de inspiração, só te fica bem!
Podes usar um dicionário de rimas, de sinónimos e pesquisar no Google para confirmar o significado de determinada palavra ou expressão que queres escrever. São ferramentas úteis e existem para serem utilizadas.
O Band-in-a-Box é muito bom para criar e testar novas ideias em diversos géneros musicais, para além de ser musicalmente educativo. O Finale tem plug-ins de Scoring and Arranging para harmonizar as tuas melodias, e há muitos outros programas que te poderão assistir no processo de composição. É claro que o computador vai sugerir notas ao lado, mas aqui o objectivo é aproveitar as melhores partes e não dar importância às que não funcionam. Afinal de contas, és tu o (a) compositor(a)!
A inspiração não é difícil de obter! Basta usares algumas destas sugestões….
Ficaste inspirado? Então toca a CRIAR!

Quais são as tuas estratégias para obter inspiração? Partilha com a malta!
P.S.: Procuro sugestões para escrever novos artigos relacionados com a temática da música. Se tens alguma questão interessante que gostarias de ser abordada, comenta este tópico.
Autor: Samuel Velho (Multi-instrumentista, Cantautor, Engenheiro de Som e Professor de Música)

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